sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Bom estava procurando matérial aqui pro blog e achei mais uma entrevista do dinho pra "caliente" seegue logo abaixo , achei interessante e fala tambem sobre  a mulher dele a Maria .




Caliente: Você só quer curtir, ficar à toa e viver numa boa?
Dinho: Eu tenho momentos de hedonismo, e acredito que a vida é para ser prazerosa. Isso não quer dizer ser irresponsável. Eu tenho um grande prazer em criar as minhas filhas. Como diz a Constituição Americana: "todo homem tem o direito a buscar a felicidade". Eu acho que você tem direito a ser feliz. Eu não acredito nessas coisas religiosas - sou anti-religião, meus pais são ateus, nunca fui à igreja, não sei rezar - então não tenho motivos para ter limites ao prazer, ou felicidade. Eu acho que é esse o propósito de viver. E seja lá pelo que for, expressar os seus desejos, mesmo que eles sejam neuróticos, mas que você ponha para fora.

Caliente: É melhor ser importante para si mesmo?
Dinho: Esse texto é do Pit Passarell. Eu entrei um dia no estúdio e ele estava gravando a demo dele. Quando eu vi a letra eu pensei "eu tenho que gravar isso". O que me chamou a atenção foi uma certa ambigüidade que ela tem. Ela pode ser vista de dois modos: como simplesmente um jovem se referindo ao mundo, dizendo "sai do meu pé, eu só quero ser feliz", e tem uma outra leitura possível que é uma coisa absolutamente restrita à nossa profissão. É um músico falando "você só quer músicas novas" para um diretor ou presidente de uma gravadora, para críticos.

Caliente: Na sua turma, dois grandes ídolos se foram com a Aids: o Renato Russo e o Cazuza. Como a "turma da colina" começou a discutir a doença?
Dinho: A Aids era uma doença misteriosa, a princípio exclusivamente gay, que ninguém sabia direito o que era... Quando se falava de Aids era sinônimo de morte iminente. Para você ter uma idéia, eu tinha um amigo que era pintor, o Zezinho. Quando ele soube que estava com Aids, se matou. É curioso como hoje a Aids não é necessariamente associada à morte. Eu acho essa a grande mudança, talvez mais do que o preconceito. A Aids foi uma coisa muito próxima de mim, meu tio morreu de Aids, o Zezinho, o Renato (Russo). O difícil mesmo era você olhar nos olhos da pessoa que estava doente, pois não havia nada que você pudesse dizer para diminuir o sofrimento. Hoje é muito diferente. Qualquer um pode ter esperança de sobrevida e de que até lá se descubra a cura.

Caliente: E como vocês viam a prevenção?
Dinho: Ninguém levava muito a sério no começo. Se não era gay, ninguém se cuidava. Eu acho que esse negócio das pessoas realmente se cuidarem, usarem preservativo, é muito recente, de cinco anos para cá. Tanto que está aí, todo mundo se infectou. Mas até hoje eu sei de muita gente que continua sem se cuidar.

Caliente: Tinha preconceito contra o homossexualismo?
Dinho: Na nossa turma ninguém nunca se incomodou. A gente sempre teve gays na turma, ia em boates gays, tinha amigos travecos. Mas a coisa só saiu do armário quando nós já éramos adultos. Quando éramos adolescentes simplesmente não se falava no assunto. Por exemplo: eu vim a descobrir que o Renato era gay mais tarde. Quando eu soube foi: "é mesmo, por que ele nunca falou?". Eu lembro de um cara que a gente adorava, que chamava Tom Robinson. O single dele era "Sing if you are glad to be gay", era um punk gay. A gente ouvia, cantava e pulava nas festas do mesmo jeito que fazia com Ramones e The Clash. Tudo era intelectualmente motivo para você romper com o sistema e lutar contra preconceitos, nesse sentido tudo era muito militante. Mas em Brasília, sexualmente, talvez a gente fosse um pouco mais conservador. A gente tinha namoradas fixas por meses, anos... Eu lembro da primeira vez que a gente foi ao Rio tocar, que a gente conheceu o Cazuza e todo mundo ficou espasmado. Era esquema Sodoma e Gomorra, ninguém é de ninguém... Mesmo que a gente não fosse preconceituoso, era todo mundo hétero, cada um com sua namorada. E era todo mundo da turma, se você não fosse era irrelevante...

Todas as noites são iguais
Os meninos satisfeitos
E as meninas querem mais

Mãos me vestem como luva
É tarde demais
E eu não consigo dizer não
Caliente: Os meninos estão satisfeitos e as meninas querem sempre mais?
Dinho: Essa música foi feita numa fase que a gente estava metendo o pé na jaca. Eu tenho a impressão que a sexualidade dos meninos e das meninas é bastante diferente. O Alvin (Alvin L. autor de "Tudo que vai") disse uma frase muito legal: "os meninos amam com os olhos e as meninas amam com os ouvidos". É bem verdade. Os meninos gostam de ver revista de mulher pelada e as meninas gostam de ouvir, gostam de romance. Eu acho que talvez por isso os meninos, por essa própria natureza distinta da sexualidade, tendem a ser mais egoístas e quererem satisfação. As mulheres querem mais, querem relacionamentos.

Caliente: As mulheres estão ganhando mais liberdade de mostrarem o que querem?
Dinho: Eu acho que sim. A Veja publicou uma entrevista com uma sexóloga americana que fez uma pesquisa sobre homens e mulheres que têm relacionamentos casuais. A porcentagem de mulheres que vão a uma boate, pegam um cara para transar aumentou muito hoje. Acho que 50% das mulheres admitiam que faziam isso. As mulheres conseguem hoje verbalizar e realizar muito melhor os seus desejos. Mas eu acredito que exista uma diferença intrínseca na sexualidade feminina e masculina. Acho que pode até ser uma explicação biológica. Eu acredito que os meninos têm esse impulso de querer fecundar o mundo. Nos somos um pouco animais. Eu li um livro da Camila Paglia em que ela dizia que acreditava em parte que os sexos são diferentes, que têm desejos diferentes. Ela ainda propunha que 99,9% dos inventores são homens por causa da masculinidade, que teria um valor de conquista. A invenção seria uma extensão disso. Os descobridores seriam no mesmo esquema. Eu acho que existem estereótipos culturais com os quais somos educados, mas também somos um pouco animais. Por isso somos diferentes, o que eu acho estimulante. Eu não sei se a energia feminina pode ser dirigida para outra coisa. Embora eu diga isso e me sinta tremendamente preconceituoso, todos os meus impulsos me dizem para não falar isso. Eu pretendo criar as minhas filhas para se considerarem iguais aos homens e conquistarem o mundo. Eu não espero que elas se resignem a um papel inferior, eu espero que elas disputem o que elas quiserem na vida.

Caliente: No final da noite não dá para dizer não?
Dinho: É bastante comum no final da noite você já estar inconsciente e não ser mais responsável pelos seus atos. Num momento da balada a Aids se torna irrelevante. Já está todo mundo alucinado e esquece. Se isso não existisse os números não aumentavam, é fácil comprovar que as pessoas agem assim. São bastante irresponsáveis. Mente quem fala que depois de beber, tomar drogas, mantém o discernimento de colocar a camisinha... Isso associado aos avanços da medicina é um explosivo, ninguém mais dá muita bola. Eu vejo uma atitude um pouco mais prevenida de quem tem uns 25 anos, porque essa gurizada que está se iniciando não está nem aí. Será que ainda há algo que a gente pudesse dizer para as pessoas que elas não saibam? Todos sabem como se prevenir. Eu não vejo nada que eu pudesse dizer que as pessoas não saibam.

Se paro e me pergunto
Será que existe alguma razão
Pra viver assim
Se não estamos de verdade juntos
Caliente: O que você acha desses relacionamentos casuais?
Dinho: Eu acho que a melhor coisa no sexo é a intimidade. Uma transa de uma noite só nunca é tão boa. Por mais que seja a liberação do seu desejo, na imensa maioria das vezes é uma frustração. Não é por nenhuma caretice, que eu acho que você tem que casar, ser fiel... É que é melhor, emocionalmente, sexualmente. Eu acredito em coisas mais longas. Eu fiquei com a Mari por cinco anos, com a Maria eu estou por seis anos. Eu sempre fui de namorar por longos períodos, morar junto. Eu acho que a qualidade do relacionamento é melhor, sob todos os aspectos.

Caliente: Hoje os relacionamentos casuais são reflexo da liberdade ou é uma roleta-russa?
Dinho: É uma combinação explosiva dos dois. Não deixa de ser liberdade, mas seria melhor se as pessoas expressassem essa liberdade com cuidado. O problema é que na maioria das vezes que as pessoas expressam essa liberdade, elas estão meio alteradas. É em geral à noite, é quando você está doidão. Eu acho que é isso que leva à irresponsabilidade, não à liberdade.

Caliente: O seu público se renovou com o "Acústico"?
Dinho: Bastante. O disco vende para gente de todas as idades. Isso eu vejo pelo pessoal que vem pedir autógrafo, porque tem muita gente da minha idade. Mas nos shows é uma moçadinha mais nova, dos 14 aos 18 anos.

Caliente: E como fica o seu ego com isso?
Dinho: Na boa. Eu estou preocupado com a minha família, é outra fase da minha vida. Eu não sei se é parte da paternidade tudo isso. Quando saí do Capital, fiz os discos solos que foram artisticamente bem. Não me arrependo disso. Mas as dificuldades... Eu vinha de 10 anos de Capital, onde tinha vendido bem à beça. Vi tudo isso virar fumaça em dois anos. Estava absolutamente duro, sem conseguir viver de uma carreira artística. Comecei a fazer publicidade, a escrever para jornais, mil bicos... Foi um malabarismo inacreditável. Eu vi um negócio que me parecia completamente consolidado que era o Capital, e achei que essa popularidade seria suficiente para manter uma carreira solo. Não foi. Eu dava shows às vezes e não aparecia ninguém. Eu acho que isso foi uma lição para mim de humildade. Eu tenho a impressão que estou tendo uma segunda chance. Eu não sou místico, mas acho que eu tenho que me comportar, tenho que ter modéstia. O sucesso é efêmero, ele some da noite para o dia. O nosso negócio é uma fogueira de vaidades, você vê as pessoas fazendo as piores coisas, os egos mais escrotos. Brigas entre amigos por causa de grana, fama. Dá um nó, principalmente se você é jovem e não percebe o circo que armaram em volta de você. Quando fiz sucesso da primeira vez eu fui leviano. Todos esse defeitos que enumerei eu tive, padeci de todos esses males.

Eu não vou pro inferno
Eu não iria tão longe por você
Mas vai ser impossível não lembrar
Vou estar em tudo que você vê

Caliente: Você não iria para o inferno por ninguém?
Dinho: Eu vou é para o céu...(risos) Eu acho que eu não iria, não me meteria mais em uma situação cabeluda. Mas eu já me meti em várias. Eu já fiz três testes de Aids, e na primeira vez tinha certeza que estava contaminado. Eu tinha ficado com uma menina, coisa de uma noite só, nem lembrava o nome dela. Um ano e meio depois alguém me ligou dizendo que ela estava doente. Caralho, essa foi uma das piores experiências da minha vida, porque eu tinha certeza que estava doente. Me ligaram à noite, e eu nem podia sair para fazer o teste. Eu fiquei a noite inteira paranóico, e a coisa que mais me assustou foi não poder ter uma família. A trip toda que eu entrei foi "eu vou ficar doente, nunca mais vou poder ter filhos, não vou poder casar...". Eu achava que por isso eu estava condenado à solidão.

Caliente: Depois disso sua atitude mudou?
Dinho: Um ano depois eu casei. E quando casei a Maria me mandou fazer de novo... Eu acho que o sentido da vida é a procriação. A melhor coisa do mundo é ter filhos. É o mais perto que você chega de enganar a morte, da imortalidade. É a coisa mais importante, é o momento culminante da sua vida. Portanto, cuide-se para você poder viver isso.

Caliente: Antes de você casar aconteciam relacionamentos com fãs?
Dinho: Raras vezes acontecia de chegar no quarto e ter gente lá, esquema beatlemania. Mas de acabar o show e entrar a mulherada no camarim e você levar para o hotel, sim, freqüentemente. Me relacionar a ponto de virar amigo também. Mas a gente nunca foi sedento de procurar e estimular.

Caliente: A sua esposa era fã?
Dinho: Antes eu fui casado com a Mari, e a conheci em um show. Naquela época não era bem fã porque a gente tocava para meia dúzia. A coisa entre nós desandou por sexo, drogas e rock'n'roll. A Maria (atual esposa) eu conheci na festa do VMB (Video Music Brasil, a premiação dos melhores clips da MTV Brasil) , numa época que eu estava no fundo do poço. Era quando tinha descoberto o tecno, nunca tomei tantas drogas como nesse período. A vida começou a desandar, estava sem grana, sem emprego, absolutamente junkie. A Maria foi a luz. Um ano depois de conhecer a Maria a gente casou, no ano seguinte a gente teve nossa filha e a coisa começou a ir para frente. Eu voltei para o Capital, fiz um disco, tivemos as filhas, montamos a casa. As coisas começaram a florescer de novo. Você tem círculos viciosos e virtuosos, acho que as duas coisas são verdadeiras. Quando tudo vai mal é uma seqüência de calamidades, e quando vai bem também parece que uma coisa conduz à outra.

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